Nossa usina de compostagem que transforma em húmus os restos vegetais. |
Ou
Ecologia X Neocapitalismo
Como é difícil manter a clara visão dos fatos, o bom senso e a ética, mergulhados que estamos na ótica do paradigma neocapitalista. Vestidos de interesses ecológicos grupos ostentam camisas e levantam bandeiras pela defesa do planeta, sem, no entanto tomarem consciência de estarem sendo manipulados pelo visgo do lucro.
Os fatos falam por si. E um fato recente ilustra a impossibilidade de nos impormos como defensores reais e necessários da saúde do planeta. Todos estamos sob a égide implacável do capital.
Moro numa cidade dita ecológica, de primeiro mundo.
Participei da implantação da coleta seletiva do lixo com crianças em idade escolar na década passada.
Separar o lixo tornou-se um hábito familiar. Papéis de bala são retirados do bolso das crianças em casa e vão para o cesto de lixo, para que não sejam jogados na rua.
Fazemos horta orgânica, com direito à compostagem de todo resíduo vegetal produzido por três residências. Obedecemos aos horários de coleta do lixo orgânico e do lixo reciclável.
Muitas vezes vi o caminhão do lixo reciclável passar sem parar para pegar o lixo reciclável que, depois de ser separado por duas semanas deveria parar, inevitavelmente, no mesmo lixão.
Muitas vezes recolhemos o lixo para que não tivesse destino errado, para recolocá-lo dois dias depois. Registrei várias ocorrências no telefone 156, da prefeitura. A argumentação dos garis era que o lixo reciclável precisava estar em sacos azuis transparentes para que se pudesse ver seu conteúdo. (??)
Compramos sacos plásticos azuis, nos mesmos mercados que fazem a campanha contra o plástico das sacolas, bem menores, mais finas e mais fáceis de decompor. Mas, afinal, as indústrias de plásticos têm que vender seu resíduo final, não reciclável, os sacos para lixo. E os mercados, afinal, não podem mais bancar a nossa sacola biodegradável. É contra as leis de mercado...
Se colocamos o lixo em caixas de papelão precisamos montar guarda para que as caixas estejam lá até a hora da coleta ou reconhecemos nosso lixo esvoaçando pelo bairro, enquanto nossas caixas provavelmente sejam “recicladas” por algum carrinheiro. Saudades do tempo de criança, quando as latas usadas para a coleta ficavam velhas e mesmo assim eram devolvidas todos os dias pelo caminhão do lixo,além disso, ninguém as carregava...
Separamos lixo para catadores por vários anos aqui em casa, até que, indignados por vermos nossas sacolas de lixo rasgadas e seus restos espalhados pela quadra, ou jogadas nos terrenos baldios, decidimos colocar seletivamente o lixo, pontualmente nos horários de coleta, evitando que fosse devassado por alguns catadores que nos levavam até os sacos plásticos externos do lixo deixando tudo exposto.
Chegamos a combinar um código entre os vizinhos e os lixeiros. Se não tivéssemos sacos azuis, transparentes, amarraríamos fitas vermelhas nos sacos pretos com conteúdo reciclável. Isto para que o caminhão parasse para pegá-lo, ao invés de passar direto. Chegamos a comprar TNT vermelho (tecido não tecido) para transformar em tiras para amarrar os sacos. Iniciativa que foi abandonada por ser absurda. Fiz plantão para cercar o caminhão do lixo em sua disparada para que não se precisasse recolher novamente os sacos para dentro do quintal.
Sinto-me indignada por fazer parte de uma grande parte da população que acredita que pode deixar o planeta melhor para aqueles que virão. Indignada por perceber, que, mesmo as iniciativas mais louváveis, estão impregnadas pela condição primordial da geração de renda e não da saúde do planeta.
Tive curiosidade de saber qual tipo de formação é destinado aos lixeiros de Curitiba, para que se neguem a levar determinados tipos de materiais recicláveis, deixando-os para a coleta normal que vão para o lixão. Infelizmente seriam os critérios ditados pelos compradores de lixo reciclável? A sentença é esta? Os lixeiros da cidade ecológica são orientados a levar só o que é vendável. E a marca de Capital Ecológica? E nossas usinas de reciclagem? Elas existem?
Porque há tantos anos Curitiba deitou em berço esplêndido carregando o nome ecológico conquistado por outras administrações e nunca mais fez uma campanha decente e esclarecedora sobre critérios de seletividade do lixo?
Será que todo o lixo que não é comprado pelas empresas comercializadoras do ramo é destinada aos lixões, independente dos nossos esforços por separá-lo? E os investimentos públicos no ramo da reciclagem? Quais são? Nós separamos, mas, afinal, vai tudo pro mesmo lugar?
Escutei estupefata a argumentação de um serviçal orientado pela coleta ecológica:
__”Não podemos levar lixo que foi mexido pelos catadores. Vai pro lixão. Porque eles já levaram tudo que dá pra vender”.
Proponho uma nova campanha para cidade ecológica: segundas quartas e sextas coloquem na rua o lixo que é vendável e que dá lucro. Terças quintas e sábados, todo o restante.
Podemos ser honestos e fazer uma campanha com critérios transparentes que respeitem a inteligência do cidadão, já que se condena inevitavelmente o planeta pela ganância?
Não condeno aqui, de forma alguma o profissionalismo dos nossos catadores ou lixeiros, responsáveis efetivos pela preservação ambiental.
Questiono e desafio a intelectualidade orgânica da Capital Ecológica a investir na Saúde do Planeta. Ou fazer um jogo limpo e transparente com seus cidadãos. Quanto tempo vai demorar para Curitiba educar de fato para a preservação ecológica com usinas que preservem a natureza, além de gerarem lucro?
Pode ser que tenhamos que aprender com o Japão e suas categorias de separação do lixo. Pode ser que eles limpem o lixo do tsunami antes que nós aprendamos a dar um destino correto para o nosso lixo...
Recebi uma visita de um responsável do departamento de urbanismo sobre minhas reclamações, mas até hoje não vi nenhuma campanha sobre separação de lixo.
Por favor, responsáveis pelos projetos de preservação ambiental de Curitiba, dêem-nos critérios transparentes e iniciem uma campanha urgente e bem respaldada sobre critérios de seletividade e destino do lixo em Curitiba, ou deixem de nos chamar, incoerentemente, de Cidade Ecológica!
Apesar de termos recebido uma resposta do órgão responsável pela coleta e termos regularizada a coleta do lixo reciclável, temos hoje em nós a sensação da criança que descobre que Papai Noel não existe. Quando separamos o lixo agora, pensamos como o sistema: Isto dá pra vender e aquilo vai pro lixão...Triste realidade que ainda há de ser mudada por aqueles que acreditam numa economia solidária e na saúde do planeta. O cosmos, tal qual um sistema vivo interligado, que pulsa como um grande coração, desde já agradece...
( Curitiba, 05 de Junho de 2011).
Adorei este seu espaço, nossa, quanta informação. E é tão difícil encontrar alguém como você, que quando fica indignada bota a boca no trombone... lendo agora estava pensando: encontrei alguém que coloca em palavras o que eu sinto. Beijos.
ResponderExcluirObrigada, Erani:
ResponderExcluirToda parcela de consciência
e conhecimento,também deve
ser como semente, lançada
ao vento...Partilhe...
Uma das propostas deste blog
é devolver à Natureza sua
condição de Paraíso..
Ajude a multiplicar esta
ideia... beijos...