Nesses dias uma leitora expressou a alegria de retornar a esse blog e encontrá-lo "vivo". Devo confessar que esse bloguinho é resiliente, e já adquiriu vida própria. Temos nos perguntado sobre sua valente sobrevida e como poderemos levar o blog a uma performance que o represente na sua manifesta resistência. Deixá-lo em "piloto automático" foi um modo de sair em busca de informações e conhecimentos para melhor gerir a vida, mas, voltamos a ele como parte significativa da mesma vida.
Durante esse tempo de isolamento, tanto a experiência de cultivar com simplicidade os alimentos sem veneno, como compartilhar a alegria de fazê-lo, tornou-se ainda mais um vínculo entre pessoas e propósito de partilha de vida. Obtivemos a adesão poderosa de pessoas de valor, tanto para a mensagem chegar mais longe e mais clara, quanto para realizar pequenos gestos com grande repercussão. Entre os projetos vimos realizar-se as hortas com a participação de famílias atenciosas em promover a saúde e educar as crianças pra uma vida melhor. Voluntários que acreditaram em sonhos também tornaram em realidade o Projeto Horta Social, com o reconhecimento e participação de alunos e professores de duas Universidades.
A aparente inatividade da missão de semear hortas urbanas, na realidade, nos levou por outros caminhos que a tecnologia pode nos transportar, e, apesar de isolados e recolhidos, nunca fomos tão longe e nem tivemos tantos parceiros, apesar de não privar da presença real deles.
Nossa gratidão pelos maravilhamentos da natureza que nos aproximaram e por sua beleza que criou em nós liames de fraternidade e paz, pelo exercício do cuidado.
Viver o luto, nacional ou pessoal, tornou-se realidade na vida de muitos de nós, e vamos emergindo de um tempo de silêncio, com a esperança da vida que se renova, e a certeza que jamais seremos os mesmos, acrisolados pelo sofrimento, mas elevados pela empatia e solidariedade.
Das mudanças que a vida trouxe, uma delas foi compartilhar os espécimes botânicos cultivados durante uma década nesse jardim pomar. À medida que compartilhamos as plantas que formaram esse pedaço de paraíso, procuramos parceiros interessados a reproduzir as hortas sociais. O exercício do desapego nos levam à busca de quem queira reproduzir também parceria nesse modelo de quintal produtivo e sustentável, em outros lugares, que se apresentem como possibilidade. Na verdade esse quintalzinho produtivo tem florescido e frutificado em outros quintais, de forma concreta, como sementes lançadas ao chão. Projetos pedagógicos bem fundamentados e estruturados, gerados por indignação e sonhos comuns, nos dão a esperança que se instalem como mudança de atitudes, como proposta de cidades inteligentes e mais justas.